Eu era um jovem rapaz durante a ditadura militar.
No apartamento em que morava
na Tijuca -Rio- via abaixo de minha janela a relativamente próxima dependência
do quartel da PE, onde era sabido se cometiam diariamente as maiores
barbaridades em torturas e mortes.
Quase todo dia ao acordar olhava
as instalações pela janela sempre com a mesma sensação de impotência e
desconforto.
Mas depois o dia seguia... Trabalho, televisão, um
cineminha, um chopinho e por fim dormir.
E aí, ao levantar da cama no dia seguinte, debaixo da mesma janela, repetia o mesmo “ritual” que achava, iludido, me penitenciava da minha impotência.
Mas na medida em que os
meses e anos se passavam nem mesmo mais olhava por essa janela e tudo passou a se
incorporar e se dissolver nas importantes-inúteis e repetitivas lides cotidianas.
Agora, já velho, numa nova
espiral, pelas windows do Facebook, assisto, mais cansado, mas com
a mesma impotência, aos descalabros desses impunes "quarteis", jurídicos, políticos e midiáticos, quer ativa ou passivamente, cercados de
vergonhosa e sórdida exceção, omissão e covardia.
Quem sabe, com o tempo, acabe
também me acostumando?
Ou...
Morrendo!
Paulo Azambuja
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